10 de abr. de 2012



Para Leila era como se seu corpo fosse mais leve e de suas costas abriam-se asas. Pela primeira vez ela sentiu o poder da gravidade tão comentada nas leis da física. Seu mundo iria muito além do que todos poderiam imaginar.
Leila morava num vilarejo não muito distante do centro da cidade. Sua vida era normal, como de todas as garotas, cursava faculdade no período matutino e trabalhava na pequena biblioteca ao lado do correio. Todos a conheciam por ser uma pessoa simpática e dedicada. Afinal de contas, era preciso se esforçar para que as coisas mudassem naquela pequena cidade.
O grande interesse por conhecer culturas diferentes e a admiração por todas as formas de arte a fizeram instigar o desejo de pesquisar e estudar tudo aquilo que lhe chamava a atenção. Tudo se tornava mais fácil já que seu trabalho como bibliotecária lhe dava acesso à documentos restritos e obras de escritores da literatura nacional e extrangeira. Mas nada se comparava a sua fascinação pelo circo. Quando criança a trupe do circo se instalara na cidade por um curto período de tempo, mas o suficiente para fazê-la repetir muitas vezes aquela sensação.
Toda vez que se aproximava das luzes que cercavam aquela tenda vermelha, seus olhos brilhavam como se fosse a primeira vez que pisasse naquele território cheio de mistérios, histórias engraçadas e personagens inusitados. Palhaços, malabaristas, ilusionistas, domadores, trapezistas, pirofagistas e a atração principal da noite para ela era o tecido acrobático. Toda a leveza se concentrava naquele número, onde a altura era o menos dos obstáculos para se alcançar o infinito.
Num belo dia de primavera, Leila separava os arquivos para catalogá-los no computador, eis que recebe um email da Secretaria da Cultura anunciando que o Cirque du Soleil se apresentaria na cidade grande no final de semana. Sua reação foi instantânea, soltou um grito de alegria naquela imensidão de silêncio. Só se escutava o eco do shiuuu pelas paredes do prédio. Ela deu uma risada inusitada e se desculpou pelo ocorrido. Sua felicidade era tanta que não se importou tanto com a bronca que seu chefe iria lhe dar no dia seguinte. O que importava naquele momento era realizar aquele sonho.
Os dias foram se passando e o grande dia havia chegado. Tudo aquilo que ela havia pesquisado e imaginado iria além de suas expectativas. O espetáculo foi perfeito em cada detalhe, fazendo a equipe ser especial e exclusiva, fazendo jus com o belo título do espetáculo, "Alegría".
Após o espetáculo, ainda extasiada com tanta perfeição, Leila não dada por satisfeita, foi tentar conseguir autógrafos de alguns dos participantes da trupe. O esforço foi grande, mas a recompensa imensurável. Conseguira o email de Pedro, que a mantinha informada do cotidiano do grupo.
Após a última temporada de apresentações Pedro entrou em contato novamente com a notícia de que haviam aberto vagas na trupe. Leila não acreditou no que lia. Sua chance de mudar por completo sua vida havia chegado. Inicialmente se assustou com tantas exigências e requisitos a serem cumpridos, mas ela teria tempo de treinar para os testes que aconteceriam dentro de um ano.
Os treinos foram intensos e a prática da ginástica de solo a ajudou a superar algumas barreiras. Foram necessários muitos dias de luta para estar na lista de finalistas para o teste final. A tensão logo se passou, pois a preparação foi árdua e ela se lembrou dos três passos, como no teatro, precisamos encarnar um personagem e saber o tempo do backstage, de estar no palco e de sair dele. E sim, tudo deu certo.
Agora familiares e amigos de Leila partilham da mesma felicidade. Ela conquistou o que mais desejava e sua estrela tem intenso brilho chamando aqueles que dão asas à imaginação e celebram a felicidade em um só lugar: o circo.


"A fotografia não é feita apenas com a câmera. Trazemos para o ato de fotografar todos os filmes que vimos, os livros que lemos, as músicas que ouvimos, as pessoas que amamos."
Ansel Adams